– Chamado a Amor

Vocação, um chamado ao amor!

Estamos vivendo uma mudança de época bastante confusa, na qual não é fácil para nós cristãos encarnar nosso chamado à fraternidade universal. Pandemias, guerras, convulsões climáticas, notícias falsas, tudo parece ter se tornado precário e incerto sobre o que o futuro nos reserva. Sentimo-nos frágeis e ameaçados neste contexto mutável, mas por causa da bondade de nosso Criador e Pai, avançamos na fé, buscando paz e fraternidade apesar de tudo. A fé nos assegura que nossa vida e nosso destino estão nas mãos de Deus, que é Amor.

Recordemos o que São João Paulo II escreveu logo no início de seu pontificado: “O homem não pode viver sem amor”. Ele permanece um ser incompreensível para si mesmo, sua vida é desprovida de sentido se não recebe a revelação do amor, se não encontra o amor, se não o experimenta e o faz seu, se não participa fortemente dele” (RH 10). Este anseio pelo amor habita especialmente no coração dos jovens, que só querem ter uma verdadeira experiência de amor. Comment y arriver si ce n’est en découvrant le Christ et le don de soi qu’il nous a montré comme le chemin par excellence du bonheur ? « Le Christ Rédempteur révèle pleinement l’homme à lui-même » (Ib) et celui-ci, « seule créature sur terre que Dieu a voulue pour elle-même, ne peut pleinement se trouver que par le don désintéressé de lui-même. » (GS 24).

Jesus traçou durante sua vida terrena um caminho de amor por tudo o que o levou ao extremo de sua paixão e morte na cruz. Graças a Deus, este grande drama não terminou aí. Pois o Pai eterno reconheceu e exaltou o Amor de seu Filho encarnado por nós, ressuscitando-o dentre os mortos pelo poder do Espírito Santo. Assim, Cristo obteve para nós, por sua morte e ressurreição, a salvação eterna e a felicidade do amor em nossa vida atual.

Tornamo-nos participantes de seu Amor, vitoriosos sobre o pecado e a morte, através do batismo que nos fez filhos de Deus. Como filhos e filhas de Deus, somos chamados a viver unidos a Ele e a levar a Boa Nova do amor misericordioso do Pai a todos os povos. Nossa vocação é amar e nossa missão é tornar o amor conhecido onde o Pai nos chama a seguir seu Filho no caminho de seu amor crucificado e glorificado. Assim, nosso batismo vivido na comunhão da Igreja é um sinal para o mundo de que o Amor Trinitário está amplamente difundido e aberto a todos.

Este tesouro escondido em nós não pode ser mantido em segredo, pois não podemos ser plenamente felizes com Deus sem envolver nossos irmãos e irmãs, especialmente os mais pobres e sofredores de nosso mundo. Como podemos ajudá-los se não revelando-lhes que Cristo é o único Salvador, que Ele dá Sua graça a todos os humanos? Que Ele ajuda os mais pobres através de nossa solidariedade com eles? Que Ele nos une, pobres de coração e de todas as maneiras, a um Amor cada vez maior para glorificar a Deus através de nossa fraternidade universal!

Queridos jovens, somos companheiros de todos aqueles que buscam a felicidade. Uma luz interior nos guia para encontros e amizades que nos trazem as surpresas de Deus, como diz o Papa Francisco. Deixemo-nos surpreender e caminhemos confiantes com nossos irmãos e irmãs em humanidade, sejam eles quem forem, para construir com eles a fraternidade que o Espírito de Jesus nos confia como uma missão.

O serviço que devemos prestar à humanidade sofredora de hoje não pode ser limitado a alguns atos de caridade ou atos ocasionais de voluntariado. Ele deve ser expresso com todo o nosso ser, à maneira de Jesus, cujo Amor possuiu toda a sua vida. Isto significa que nossa vocação de batizados é um compromisso de amor destinado a ser expresso de várias maneiras, de acordo com o chamado específico que cada um recebe do Espírito Santo através de uma atração interior e através das circunstâncias da vida. Casamento, vida consagrada, sacerdócio, são as grandes artérias desta comunicação de amor destinada a iluminar toda a humanidade.

No início, Deus criou o ser humano, masculino e feminino, à sua imagem e semelhança, para que fossem um só e fecundo no amor. Esta vocação original recebida do Criador foi confirmada e embelezada por Cristo, que fez do casal casado o sacramento de seu amor como Esposo da Igreja, sua noiva. Desta forma, uma família cristã bem integrada em seu ambiente eclesial e social dá testemunho de que Deus é Amor, um Amor Trinitário que se reflete e se dá através dos múltiplos laços e relações que se tecem entre os membros de uma mesma família e a sociedade onde eles estão em missão.

O Apocalipse nos diz que, na plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho ao mundo para conduzir a humanidade a seu destino final de felicidade eterna em comunhão com as Pessoas divinas. Para isso, Jesus escolheu e chamou alguns de seus discípulos “para estarem com ele e enviá-los a pregar com poder para expulsar demônios” (Mc 3,14-15). Estes amigos íntimos são missionários que pertencem totalmente a Ele através de uma consagração especial que os torna ministros de Seu amor e de Sua graça. Pedro é o protótipo como chefe do grupo de apóstolos e ele mantém vivo na Igreja, com todos os seus sucessores e colaboradores, a proclamação da Palavra de Deus e a presença eucarística de Jesus que permanece conosco todos os dias até o fim do mundo. Esta vocação é exigente, excede a força humana, mas se baseia numa graça que sustenta constantemente aqueles que são chamados a prestar este serviço como seguidores de Jesus.

O chamado ao amor não se limita às pessoas casadas e aos ministros do Evangelho. Ele diz respeito a todos, jovens ou idosos, solteiros ou associados de mil maneiras a iniciativas de solidariedade ou obras de caridade. Há, porém, um chamado ao amor que tem o valor de um sinal particular para a comunidade. É a vida consagrada, seja feminina ou masculina, contemplativa ou ativa, apostólica ou pastoral. Qualquer que seja a forma particular de consagração, é sempre um chamado ao amor que convida a testemunhar o amor divino, abraçando o modo de vida de Jesus na virgindade, pobreza e obediência. Esta forma de vida, caracterizada por votos religiosos ou promessas similares, encarna o Evangelho de uma forma que lembra a todos a gratuidade do amor de Deus e a comunhão fraterna para a qual toda a humanidade é convidada.

Finalmente, o chamado ao amor não exclui ninguém, não esquece ninguém e quer levar a todos à felicidade da comunhão universal dos irmãos e irmãs em humanidade. O Amor das Três Pessoas Divinas que preside à criação e redenção do mundo leva o universo a uma transfiguração definitiva além de toda imaginação. Esta é nossa esperança baseada na ressurreição de Cristo e em sua promessa de vida eterna. Através d’Ele, com Ele e n’Ele, enquanto rezamos na Missa, somos levados a essa plenitude de comunhão da qual a vida presente é uma preparação e um antegozo. O Espírito Santo promove e anima a comunhão das vocações na Igreja, Ele harmoniza sua complementaridade e reciprocidade, porque a comunhão das vocações é Sua obra que ilustra de alguma forma a comunhão das Pessoas divinas. Esta comunhão eclesial é uma profecia de vida eterna, a aurora luminosa personificada em Maria que anuncia a vinda do Dia de Deus no esplendor de Sua Glória. Queridos amigos, o chamado ao Amor em todas as suas formas não é reservado a uma elite, diz respeito a todos os membros do Povo de Deus em marcha; é um chamado à comunhão fraterna e missionária, um chamado à santidade pessoal e comunitária neste povo em oração e em marcha para a vinda do Reino.

O Espírito e a Noiva dizem: Vinde! Amém, vem Senhor Jesus! A graça do Senhor Jesus esteja com todos! (Ap. 22, 17, 20-21).